segunda-feira, 16 de junho de 2008

O Positivismo e a Grande Revolução

Franceses, os apóstolos políticos da ciência elaboraram teses sobre o sentido da história tomando em conta a Grande Revolução uma vez que os acontecimentos de 89 e as suas sequências na sociedade francesa foram interpretados como o prelúdio da era positiva: os filósofos das Luzes são os grandes actores da metafísica e semearam as ideias revolucionárias em nome de uma Razão antagonista das culturas ancoradas na fé.
Pode dizer-se que a Revolução Francesa é interpretada pelo positivismo como a manifestação dramática da lei de bronze da caminhada do espírito no decurso da qual os enciclopedistas desarmaram os alicerces religiosos da cultura aristocrática sem perceberem que estavam a abrir as portas da história à implantação da cultura humana derradeira formatada pela razão empírica que viria quando a poeira revolucionária assentasse.
No discurso comteano, a tradução concreta da relação entre a evolução do espírito e as sociedades globais é ilustrada no facto da eminência metafísica haver posto os legistas no poder e ter colocado os filósofos no topo da intelectualidade, subtraindo força política à aristocracia e influência moral ao clero. A sociedade francesa passava a ser o palco da presença contraditória das forças aristocráticas, clericais e militares em perda de hegemonia diante dos poderes emergentes da burguesia e dos metafísicos cujo racionalismo pôde acolher sem unanimidade a ideia de Deus mas foi naturalmente anti-místico. O domínio burguês teria por sua vez os dias contados e Comte daria uma ajuda.
Como em qualquer outro determinismo sociológico, no sistema positivista os actores são guiados por leis necessárias cuja existência ignoram ou tendem a desconhecer. Nestas circunstâncias, a liberdade dos homens é puramente imaginária e o comteanismo viu nos intelectuais pré-positivistas o que o marxismo viu na burguesia: coveiros de si próprios. Iludidos por uma fé ilimitada no poder da razão, os metafísicos reinterpretaram os fenómenos humanos à luz de um racionalismo optimista e acabaram por preparar, involuntariamente, a teorização positiva do social que os negaria como elite intelectual e liquidaria o modelo social que continuavam a inspirar.
No entendimento do positivismo, os agentes sociais são títeres da história do Espírito que marcha a ritmos conformes aos tempos e aos povos, numa viagem contínua e sem retorno do simples para o complexo e das ilusões fetichistico-religiosas para as certezas da ciência. Neste circuito plano do espírito iniciado no começo dos tempos, coube aos homens da Enciclopédia o encargo de demolir os deuses e abrir as portas ao cientismo sem darem conta de que o racionalismo era um momento transitório do caminho da razão que culminaria num modelo sócio-político bastante diferente da sociedade legista saída da revolução. O POSITIVISMO E A GRANDE REVOLUÇÃO
Franceses, os apóstolos políticos da ciência elaboraram teses sobre o sentido da história tomando em conta a Grande Revolução uma vez que os acontecimentos de 89 e as suas sequências na sociedade francesa foram interpretados como o prelúdio da era positiva: os filósofos das Luzes são os grandes actores da metafísica e semearam as ideias revolucionárias em nome de uma Razão antagonista das culturas ancoradas na fé.
Pode dizer-se que a Revolução Francesa é interpretada pelo positivismo como a manifestação dramática da lei de bronze da caminhada do espírito no decurso da qual os enciclopedistas desarmaram os alicerces religiosos da cultura aristocrática sem perceberem que estavam a abrir as portas da história à implantação da cultura humana derradeira formatada pela razão empírica que viria quando a poeira revolucionária assentasse.
No discurso comteano, a tradução concreta da relação entre a evolução do espírito e as sociedades globais é ilustrada no facto da eminência metafísica haver posto os legistas no poder e ter colocado os filósofos no topo da intelectualidade, subtraindo força política à aristocracia e influência moral ao clero. A sociedade francesa passava a ser o palco da presença contraditória das forças aristocráticas, clericais e militares em perda de hegemonia diante dos poderes emergentes da burguesia e dos metafísicos cujo racionalismo pôde acolher sem unanimidade a ideia de Deus mas foi naturalmente anti-místico. O domínio burguês teria por sua vez os dias contados e Comte daria uma ajuda.
Como em qualquer outro determinismo sociológico, no sistema positivista os actores são guiados por leis necessárias cuja existência ignoram ou tendem a desconhecer. Nestas circunstâncias, a liberdade dos homens é puramente imaginária e o comteanismo viu nos intelectuais pré-positivistas o que o marxismo viu na burguesia: coveiros de si próprios. Iludidos por uma fé ilimitada no poder da razão, os metafísicos reinterpretaram os fenómenos humanos à luz de um racionalismo optimista e acabaram por preparar, involuntariamente, a teorização positiva do social que os negaria como elite intelectual e liquidaria o modelo social que continuavam a inspirar.
No entendimento do positivismo, os agentes sociais são títeres da história do Espírito que marcha a ritmos conformes aos tempos e aos povos, numa viagem contínua e sem retorno do simples para o complexo e das ilusões fetichistico-religiosas para as certezas da ciência. Neste circuito plano do espírito iniciado no começo dos tempos, coube aos homens da Enciclopédia o encargo de demolir os deuses e abrir as portas ao cientismo sem darem conta de que o racionalismo era um momento transitório do caminho da razão que culminaria num modelo sócio-político bastante diferente da sociedade legista saída da revolução.
Na prospectiva comteana a tríade de ouro do racionalismo revolucionário e bandeira universal das sociedades demo-liberais - «liberdade, igualdade e fraternidade - acabará por ser apeada pela consigna da sociedade positivista: «ordem e o progresso».
Esta visão das coisas sociais e políticas permitiu ao positismo ler a revolução francesa como uma decapitação dos valores, das práticas e das instituições associados à crença no sobrenatural que substanciava a cultura do Ancien Regime e oferecia a mística necessária à legitimação da monarquia. Nesta missão histórica os enciclopedistas difundiram abstracções que removeram os deuses da consciência colectiva mas que não contribuiram para instalar as capacidades necessásrias à descodificação e à organização do mundo capitalista.
Pelo contrário, o positivismo comteano atribui-lhe males sociais relevantes que se exprimem basicamente na desordem social e na degradação das instituições ligadas à natureza liberal das ideias revolucionárias fundadas numa metafísica cuja subjectividade tende a gerar pluralismos ideológicos nos quais os mesmos objectos são tratados de modos díspares e até antinómicos.
Substituindo os dogmas da fé, as verdades reveladas e as apostas no além por conceitos humanizados e pela fé na capacidade da razão especulativa, os filósofos transformaram a política num exercício de conceitos desrealizados e em conflito partidário permanente sem lograrem perceber que o sentido da históra exigiria a transformação positivista das instituições sociais em coerência com a hegemonia intelectual da ciência num ambiente político monocolor instaurado e gerido pelos saberes empírico-experimentais dominados por sábios governantes.

Na prospectiva comteana a tríade de ouro do racionalismo revolucionário e bandeira universal das sociedades demo-liberais - «liberdade, igualdade e fraternidade - acabará por ser apeada pela consigna da sociedade positivista: «ordem e o progresso».
Esta visão das coisas sociais e políticas permitiu ao positismo ler a revolução francesa como uma decapitação dos valores, das práticas e das instituições associados à crença no sobrenatural que substanciava a cultura do Ancien Regime e oferecia a mística necessária à legitimação da monarquia. Nesta missão histórica os enciclopedistas difundiram abstracções que removeram os deuses da consciência colectiva mas que não contribuiram para instalar as capacidades necessásrias à descodificação e à organização do mundo capitalista.
Pelo contrário, o positivismo comteano atribui-lhe males sociais relevantes que se exprimem basicamente na desordem social e na degradação das instituições ligadas à natureza liberal das ideias revolucionárias fundadas numa metafísica cuja subjectividade tende a gerar pluralismos ideológicos nos quais os mesmos objectos são tratados de modos díspares e até antinómicos.
Substituindo os dogmas da fé, as verdades reveladas e as apostas no além por conceitos humanizados e pela fé na capacidade da razão especulativa, os filósofos transformaram a política num exercício de conceitos desrealizados e em conflito partidário permanente sem lograrem perceber que o sentido da históra exigiria a transformação positivista das instituições sociais em coerência com a hegemonia intelectual da ciência num ambiente político monocolor instaurado e gerido pelos saberes empírico-experimentais dominados por sábios governantes.



Valter Guerreiro, 2008

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