Suavíssima, desliza, suspende-se no espaço e plasma as lágrimas que me escorrem no peito e que os olhos recusam. É da luz do cantinho-oásis e da luz que tu pões nela de que te falo Senhor, que queria que fosses meu e Deus te houvesse imaginado e criado no ventre da Virgem Maria por mediação do Espírito Santo.
É do meu pai, da minha mãe e do meu irmão que me trespasso até ao âmago das vísceras como se eles tivessem ali, naquela cruz pequenina, ali dentro de ti, ali ao pé de ti e no céu que não conheço. Por momentos, o meu coração golpeado aconchega-se a ti e quer tirar-te da cruz inocente e deitar-te na alma, na minha alma, para sempre.
Tenho muitas dúvidas sobre a tua identidade mas não me resta sombra de suspeita sobre a doçura infinita da tua imagem e sobre a terna sacralidade da luz que te cobre e beija cicatrizantemente as minhas dores, as nossas feridas, os desesperos que cozem as atribulações dos teus irmãos profanos.
Como queria fundir-me eternamente nessa luz, como queria ser delicadamente sugado por ela, como queria viver nela para toda a eternidade e da poeira suspensa sobre os seus halos cobrir de flores os espinhos que entenebrecem de escuro a fantástica coroa de amores que a vida deveria ser.
Passo a passo, passos doídos e lentos, caminhadas tremidas e hesitantes, esforços violentos como se cada pé à frente empurrasse os rochedos de Sísifo, aqui me tens Igreja de Arroios: faz de mim o que quiseres e se achares justo, põe o teu Cristo no lugar onde todas as revoluções, todos os sonhadores dos vários utopus já estiveram.
Valter Guerreiro, 2008
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