quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Mãe é noite de Natal na Infante Santo

Dezembro, uma lágrima e uma avenida
É a lágrima dos dezembros, a da saudade
Que desceu comigo a noite áspera que nascia
E serena, companheira e comovida
Ia,
Como se fosses tu
E na avenida tu descesses a meu lado

E a lágrima eras tu, água antiga cansada do cansaço
De te buscar no meu corpo como se nele houvesse
Força mágica e tão forte que dos deuses te libertasse
E por gostar de mim na lágrima dezembrina te trouxesse

E ficaste,
E vazio, do vazio de sempre a lágrima na bruma apaguei
E do nada por dizer do tanto p`ra ser dito encrespei
E quis o céu, e voei

Na gaivota hasteada pelo vento e fugida às tormentas do mar
Lá fui eu
Pedindo que me levasse ao céu, aos anjos p`ra te roubar
Mas eles quiseram-te para além da minha mágoa
E nada que fosse da terra os demoveu


E a gaivota grácil eras tu cansada do cansaço de tantos voos
Tanto perder…
Chamada a levitar o meu corpo como se ele pudesse
Subir num milagre até aos deuses para te haver
E deles, à socapa, na gaivota te trouxesse

E mais uma vez não vieste
E vazio, do vazio de sempre a gaivota na bruma esvaneci
E do nada por fazer e do nada p`ra ser feito ainda quis
E quis-te a ti

E à janela d`outros dezembros onde estiveste
Estás agora,
Mexes o xerém, guisas o litão, e tudo o resto
São as pequenas-grandes coisas que me fizeram
Porque as fizeste…
É noite de natal, chegou a hora…

E comunguei
Na lágrima apagada
E cavalguei
Na gaivota esvanecida
Em direcção ao nada
Em direcção à vida…

Fui descendo, já sozinho, de mansinho, p`ra não me acordar
E no sopé da noite a noite amanheceu e a bruma fez-se em ti
E tu, devagar, devagarinho, mansamente p`ra eu descansar
Beijas-te-me p`ra amansar a dor que dói de não estares aqui

E acordei,
O Dipsi lambia-se
O Shrek cabeceava
A Fiona derretia-se
A Kiwi meninava

E do fundo do sonho que te chama
E na chama que sobeja do sonhar
Mãe eu te amo, mãe eu te canto
É dia de natal na minha cama
Foi noite de natal na Infante Santo

São tão queridos os meus gatos
É tão bela a minha casa
São tão minhas as minhas filhas
És tão mãe todos os dias
E é tão vazio o vazio….
Feliz natal mãe nunca mais
Ufa, que frio!

Valter Guerreiro, 2008

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